Aurora: O despertar da mulher exausta - Resenha crítica - Marcela Ceribelli
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Aurora: O despertar da mulher exausta - resenha crítica

Aurora: O despertar da mulher exausta Resenha crítica Inicie seu teste gratuito
Autoajuda & Motivação

Este microbook é uma resenha crítica da obra: 

Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.

ISBN: 

Editora: HarperCollins

Resenha crítica

Exausta

Para Marcela Ceribelli, a existência de uma deusa greco-romana que representa o amanhecer não é fruto do acaso. Aurora é irmã do deus do sol Hélio. Se Hélio carrega o sol, Aurora é quem mostra as primeiras luzes. A deusa vem antes e mostra a força da renovação. 

Isso acontece aos poucos, com a escuridão sendo dissipada lentamente até o sol aparecer por completo. A autora faz uma metáfora com nosso próprio despertar e com o sol que surge dentro de si, fazendo das manhãs uma possibilidade de recomeço. O problema é que o despertar pode estar repleto de ansiedade. 

A história de Marcela com a ansiedade é longa. A reviravolta aconteceu quando distinguiu a diferença entre estresse e ansiedade. Estresse é a resposta biológica às coisas identificadas como ameaças, chamadas de “estressores”. É pontual. Se você for atacado por um leão, por exemplo, e conseguisse se esconder, o estresse desapareceria assim que o leão se afastasse. 

Isso significa que o estresse só dura enquanto a ameaça durar. Já a ansiedade, funciona de forma diferente e é uma experiência de estresse contínuo. Para o ansioso, o estresse é desproporcional à ameaça e continua muito tempo depois do desaparecimento dos riscos. Nem todos os estressados são ansiosos. 

Isso se soma à dissolução das fronteiras entre trabalho e lazer, com todo momento sendo pertinente para o ganha-pão. As 24 horas do dia se tornaram monetizáveis em uma realidade permeada pela tecnologia e pela insegurança econômica. Precisamos não só trabalhar, mas divulgar constantemente o trabalho e monetizar os hobbies. 

Essa obsessão excluiu o espaço para o descanso e criou uma geração de pessoas exaustas. O descanso deixou de ser um direito e se tornou uma recompensa para quando “se chega lá”. E “lá” parece um alvo sempre distante. Isso também criou um medo de enfrentar o silêncio. Afinal, ficar em silêncio também é uma forma de encarar a si. 

Esse excesso de coisas na cabeça faz com que as pessoas deixem de ouvir o outro e de meditar. A autora encontrou um caminho para se livrar da ansiedade e da tensão ao escrever um pouco sobre si todas as manhãs. Depositar no papel todas as preocupações e abandonar um pouco de si deixou Marcela mais leve. 

Mulheres difíceis

Muitas mulheres são criadas tendo como mentalidade a ideia de que só são dignas de serem amadas na medida em que são capazes de se sacrificar e ficar em segundo plano. Isso torna difícil a tarefa de se olhar como uma pessoa com necessidades e limites. 

Embora a generosidade e sacrifício possam até fazer parte do amor, ser uma mulher amável não se resume a isso. O ideal é que mulheres não sejam valorizadas apenas por sua entrega, mas pelo que são. Tarefas como socorrer, cuidar, fazer a lista de compras e agradar são assumidas quase que exclusivamente femininas. 

Mulheres são mais sujeitas aos “trabalhos emocionais”, quando precisam disfarçar os sentimentos reais para parecerem prestativas. Por exemplo, cargos como atendente e comissária de bordo. Há uma cobrança alta pelo eterno bom humor e aparência prestativa. Enquanto isso, homens ocupam menos vagas de trabalho emocionais. 

Isso significa que sofrem menos consequências se agirem naturalmente, de acordo com o que sentem. Outro problema do patriarcado é a divisão das mulheres com base em padrões estéticos, fazendo com que sejam escolhidas como mercadorias em uma prateleira. Nesse caso, mulheres negras, acima do peso, deficientes e indígenas tendem a ficar à margem. 

Aqui, fortalecer as relações com outras mulheres, como mães e amigas, surge como necessidade. Isso acontece porque quando a corda aperta, o primeiro ponto de apoio é feminino. Outro ponto de exaustão aparece na assimetria da relação. 

Existe uma ideia difundida de que mulheres são biologicamente mais emocionais do que os homens, o que faz com que as mulheres fiquem emocionalmente sobrecarregadas por fazerem todo o trabalho afetivo sozinhas. A insegurança provocada por estar sempre em segundo plano ainda inibe a expressão pessoal. 

Mulheres evitam a autoconfiança por medo de soarem arrogantes, a assertividade por medo de soarem agressivas e a autopriorização por medo de soarem egoístas. Em alguns casos, o resultado é a “síndrome do impostor”, simbolizada pela sensação de que o sucesso é fruto de circunstâncias externas e não de si própria. 

O gênero ainda tende a assumir mais a culpa pelo mau desempenho, enquanto atribui o bom à sorte. Isso faz com que as mulheres se esforcem para entregar uma quantidade alta de trabalho e responsabilidades para se sentirem dignas de reconhecimento. O problema não é individual, mas sintoma de um mercado de trabalho intoxicado de autocobrança feminina. 

O novo espelho

Desde a infância, as mulheres percebem que ser magra traz admiração, enquanto ser gorda leva ao deboche. Boa parte das meninas já cria uma relação conflituosa com si e odeia o próprio corpo ainda antes da adolescência. A rejeição à própria forma tem começado cada vez mais cedo. 

Uma parcela alta de meninas ainda gostaria de ter outra silhueta, um desejo que costuma se relacionar com a baixa autoestima. A preocupação com a aparência na juventude não revela mulheres fúteis, mas vítimas. Crescer em um ambiente que aplaude o emagrecimento irrestrito registra inconscientemente a ideia de que só receberemos carinho se alcançarmos a magreza. 

Os primeiros comentários sobre mulheres costumam ser sobre aparência. O caminho mais saudável é eliminar o autojulgamento que surge ao provar uma roupa em uma loja e trocar as memórias intrusivas repletas de vergonha por autocompaixão. Todas um dia percebem o que é aplaudido pela sociedade e se submetem a isso. 

A autora defende que é um erro deixar a vida girar em torno dos alimentos, já que comer é um dos grandes prazeres da vida. Não é saudável sentir uma grande carga emocional negativa por simplesmente comer um pedaço de bolo. Até os exercícios físicos devem ter outro papel.

O ideal é encarar as atividades não como uma punição para corrigir uma relação defeituosa com o corpo, mas como uma forma de autoamor e de recompensar a si com endorfina. O problema é a insegurança dos primeiros dias. 

A sociedade é tão insana na busca pelo autoaperfeiçoamento que as pessoas se sentem constrangidas por serem iniciantes em uma nova atividade física. Para a autora, outro desafio é transformar a prática esporádica dos exercícios em um hábito contínuo. Nos tornamos o que fazemos repetidamente, não esporadicamente. 

Aqui, vale ter em mente que a ideia de que é preciso apenas ter força de vontade é falsa. Os estudos mostram que pessoas com mais vontade e traços de autocontrole não foram mais bem-sucedidas ao tentar manter hábitos saudáveis. O segredo é criar recompensas para trabalhar com o mecanismo de incentivos do cérebro. 

A motivação da autora, por exemplo, é se exercitar com uma amiga, o que torna a tarefa originalmente difícil em uma simples diversão com uma pessoa querida. Isso faz com que o cérebro recompense o exercício e o transforme em um hábito. 

Quanto dura o amor? 

Já passamos da metade deste microbook e a autora explora o amor, defendendo que o conhecimento é um elemento essencial que compõe o sentimento. Isso é importante porque, diariamente, recebemos a mensagem de que o amor só existe no mistério. 

Nos filmes, os apaixonados se mostram como pessoas que não fazem muitas perguntas umas às outras, pois já sabem magicamente o que deveriam saber sobre o parceiro ou a parceira. A mídia mostra o conhecimento como algo que torna o amor menos atrativo, erótico e transgressor. 

Essas mensagens só fazem sentido para produtores que pensam principalmente no lucro e que não sabem retratar o amor como realmente é. Para as mulheres, a falta de conhecimento é acompanhada pela dificuldade de expressar as próprias vontades. Normalmente, são vistas como objetos de desejo e nunca estimuladas a se verem como pessoas desejantes. 

Outro problema é o fato de vivermos em uma sociedade viciada em paixões incinerantes. Essas costumam ter traços narcísicos, em que as pessoas se amam a partir do outro e projetam nele algo que não são de fato. O narcisismo das paixões incinerantes faz com que percamos a capacidade de lidar com as diferenças que existem entre si e o outro. 

Só que o amor se faz justamente na capacidade de sustentar as diferenças. Quando isso não acontece, o resultado é problemático. A autora também enfatiza a importância de ser cautelosa em relação à dependência emocional. Geralmente, o traço é marcado por um medo grande da rejeição que nasce do abandono interior. 

Isso faz com que busquemos segurança no outro e o relacionamento passa a se fundar no medo de ficar sozinha. A dependência é principalmente problemática em relacionamentos tóxicos. É importante se atentar para não passar por cima de si para mudar alguém que nem sempre está interessado na mudança. 

Só que a dificuldade pode não estar no relacionamento em si, mas no seu modelo. Embora a monogamia seja o mais difundido, costuma gerar conflitos por não comportar bem a mudança e impermanência dos sentimentos que uma pessoa sente pela outra. Por isso, vale questionar o modelo como o único possível. 

Para os que terminam a relação, a autora lembra que o luto afetivo pode ser dolorido e sofrido. Ainda assim, a dor passa com paciência e tempo. Afinal, existia uma vida antes da relação e ela vai continuar existindo depois. 

Confie no seu processo

O fracasso só é possível para quem se arrisca. Só que a diversão também só existe em quem se expõe ao risco de fracassar. Os fracassos costumam ser professores mais competentes do que as vitórias e precisam ser naturalizados. Isso fica difícil quando a derrota vem acompanhada das chuvas de críticas. 

Para a autora, o ideal é não dar muita importância às críticas das pessoas para as quais você não pediria conselhos. Só que as críticas e a cobrança podem vir de si. Por exemplo, quando você se pune diariamente por não conseguir fazer algo que gostaria, como cumprir as metas de fim de ano. 

Por isso, a autora acredita que precisamos perdoar nosso eu procrastinador e impedir que se torne nossa companhia diária. Ainda assim, vale diferenciar a procrastinação das pausas necessárias. Uma pesquisa da Universidade de Indiana mostrou que o tempo que as pessoas passam assistindo vídeos de gatinhos na internet gera emoções positivas que são úteis para recuperar a produtividade nas tarefas difíceis. 

Isso significa que nem todo tempo ocioso é ruim e nem toda distração deve ser abolida. Só que não é só a sensação de precisar ser produtiva o tempo todo que é pouco saudável. O problema também pode estar no perfeccionismo. 

Para a autora, o caminho para fugir da cobrança pela perfeição é agir primeiro e julgar a qualidade da ação depois. O perfeccionismo nos faz tentar esconder os erros e fingir que eles não aconteceram. Mas a vulnerabilidade aparece justamente na capacidade de assumir quando erramos. 

Por isso, ser vulnerável é ser imperfeito. Caso os pensamentos negativos e a autocobrança venham do medo da reprovação, a autora também lembra que, na prática, pouca gente realmente está se importando. As pessoas estão ocupadas se preocupando com a própria imagem e não vão colocar um holofote em você. 

A autora destaca ainda a importância de não dar bola para as críticas e mudar de rota quando necessário. É importante se permitir reescrever a própria história. Se renovar pode passar por se livrar da estabilidade e da zona de conforto. 

A mudança pode ser priorizar a saúde mental, terminar um relacionamento, trocar de carreira, repensar o contato com a tecnologia ou lutar pela própria autoestima. Nesse momento, é preciso se despedir do seu antigo propósito, respirar um novo começo, despertar em uma outra aurora e ousar sonhar de novo. 

Notas finais

Reencontrar a autoestima e assumir o protagonismo em uma sociedade que insiste em manter as mulheres em segundo plano não é tão simples. O livro de Marcela Ceribelli revela como a coragem para encarar as próprias cobranças e a crítica sobre as demandas de produtividade sem fim podem dar uma nova cor para a vida e livrar as pessoas da exaustão.

Dica do 12min

Marcela Ceribelli conta como a demanda pela produtividade sem fim pode levar à exaustão. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han detalha como isso acontece na obra “A Sociedade do Cansaço”, também disponível aqui no 12min!

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Quem escreveu o livro?

Marcela Ceribelli é influencer e fundadora da bem-sucedida plataforma de conteúdo Obvious, sendo eleita uma das pessoas mais influentes da Améric... (Leia mais)

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